Falta de chuvas coloca em risco sucessão soja-cana em Minas Gerais
Produtores temem que atraso no plantio da soja, interfira na implantação da cana-de-açúcar e janela errada pode afetar desenvolvimento da cultura perene.
Plantação de soja em Uberaba (MG). Foto Carolina Lorencetti
No Triângulo Mineiro o atraso no plantio de soja preocupa não só os produtores de soja que plantarão milho na segunda safra, mas também aqueles que fazem a reforma de áreas para cana-de-açúcar. O ideal seria colher a soja até o final de fevereiro, mas já tem gente calculando que não vai dar tempo.
A soja irrigada é aquela que irá garantir o cumprimento dos contratos de fevereiro, já fechados antecipadamente pelo produtor João Angelo Guidi Junior, de Uberaba (MG). Ali, as chuvas não estão ajudando, ainda faltam plantar pelo menos 200 hectares, em área de sequeiro, usada para reforma da cana-de-açúcar.
“Vou ter que colher de um lado e plantar do outro. Parte da equipe estará focada na colheita da soja e a outra equipe já focada no plantio de cana”, diz.
Em outubro as chuvas na região ficaram abaixo da média. O normal seria chover entre 100 e 150 milímetros, mas o mês fechou com apenas metade disso. Em novembro as chuvas continuam abaixo do normal e a situação não deve mudar tanto assim até dezembro.
Na propriedade do Thomaz Mendes, o plantio da soja não será finalizado até a data limite, 30 de novembro. Com isso, a semeadura da cana-de-açúcar também deve atrasar.
“Preciso ter chuvas no plantio, até para que a cana possa germinar. Se faltar chuva, começa o frio e acaba dando estresse nas plantas. Como a cana não é só um ciclo, isso me atrapalhará durante alguns anos”, diz Mendes.
A irregularidade das chuvas tem sido uma queixa recorrente dos produtores mineiros. Segundo a consultoria Safras & Mercado, até agora, a semeadura em Minas Gerais chegou a 57% da área, ano passado já estava em 95%. A média dos últimos cinco anos para o período é de 60%.
“O plantio esse ano está muito complicado, ainda mais na comparação com o ano passado em que as chuvas entraram bem mais cedo, firmes e constantes, dando a condição total para o produtor fazer o seu plantio. Esse ano estão esparsas, localizadas, sem consistência”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Uberaba, Gilberto Dias.
Uberaba é um dos principais produtores de soja do estado. A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que Minas Gerais produza, nesta safra, 5,4 milhões de toneladas, 6,6% a mais que no ciclo anterior. Lembrando que a soja pode se desenvolver mesmo com uma quantidade menor de água.
“Depende da distribuição, depende da intensidade da chuva, Vamos botar que 400 mm bem distribuídos ao longo dos 4 ou 5 meses de cultivo é bastante racional e faria a soja ir bem”, afirma o pesquisador da Embrapa, Amélio Dall’Agnol.
(Reportagem: Carolina Lorencetti – Canal Rural)
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